O ativismo não tem idade

Menino colombiano fundou movimento ambientalista e a sua mensagem em defesa do Planeta já ultrapassou fronteiras.

“Olá!” Francisco Javier Vera saúda o TAG via Zoom de sorriso aberto, durante a pausa de almoço das aulas, a partir da cidade de Villeta, onde vive, no centro da Colômbia. Tem 11 anos, gosta de História e Geografia e, nos tempos livres, adora nadar e andar de bicicleta, assim como jogar videojogos. Mas tem outra paixão: o meio ambiente. Em 2019, fundou o movimento “Guardianes por la vida” (Guardiões pela vida) com seis amigos da escola. Atualmente, são mais de 200 – “só meninos e meninas e jovens”, sublinha – não só na Colômbia como noutros países da América Latina, como Argentina, México, Venezuela e Chile.

“Acho que há pouco tempo para defender e preservar a biodiversidade deste Planeta”, diz, consciente da crise climática. O seu discurso pela defesa do ambiente é muito a sério e já o levou ao Senado para exigir que o Governo da Colômbia adote uma legislação climática mais eficaz. Desde fevereiro é embaixador da Boa Vontade da União Europeia.

O TAG falou com Francisco a propósito da sua participação no segundo E-Congresso Mundial de Líderes Ubuntu, organizado por Portugal no domingo passado (16 de maio). Preocupa-se com a indiferença, explica porque não gosta que o comparem a Greta Thunberg e deixa um desafio às crianças portuguesas.

 

És fundador do movimento “Guardianes por la vida”. O que te inspirou a ser um ativista ambiental?
A Colômbia é um país bonito em vários sentidos, na biodiversidade, na cultura, na diversidade. É um país lindíssimo e nesse sentido há muito onde me inspirar. Eu nasci em Bogotá, capital da Colômbia, mas desde os três anos vivo numa zona natural, rodeada de verde e também de animais, não só domésticos, mas patos, galinhas, cavalos…Foi algo que me inspirou a pensar no meio ambiente e na Natureza. Mas comecei por ser defensor dos animais. Depois, aos oito anos, comecei a lutar por essas causas mais ambientais.

Os teus amigos da escola apoiam-te?
Sim. Foi com os meus colegas que iniciei os “Guardianes por la vida”.

No teu país, o que te preocupa mais?
O que mais me preocupa é a indiferença das pessoas. Dizem não compreender a situação que se vive e que é tão preocupante. O Governo deve agir com mais rapidez e eficácia e ambição nos objetivos climáticos e ambientais deste país. Acho que os governos, os cidadãos e as empresas são os três atores mais importantes na temática ambiental. Os cidadãos são quem pode fazer ações massivas e quem expõe os governos. E são os governos que regulam as empresas e que tomam as decisões da temática ambiental nos países.

Que tipo de ações já realizaram os “Guardianes por la vida”?
São ações pelo meio ambiente, como plantar árvores. Recentemente, plantámos 250. E agora temos ações digitais, por causa da pandemia, em podcast, entrevistas e conferências e podemos difundir todo esse conhecimento através das redes sociais. Antes da pandemia, fazíamos marchas, limpeza de parques ou locais públicos, etc..

Dizes que resta pouco tempo para ajudar a Terra. Aos políticos isto não interessa? As crianças preocupam-se mais com o futuro?
Acho que há pouco tempo para defender e preservar a biodiversidade deste Planeta. E, apesar de a economia ser preocupante, há os governos negacionistas das alterações climáticas que deixam o meio ambiente para segundo plano, privilegiando os benefícios económicos. Esta sociedade deveria privilegiar sempre, e ter sempre como central, a vida de todos, permitindo-nos avançar unidos, preservando-nos e cuidando-nos. Todos os jovens, meninos e meninas, estamos a unir-nos para passar essa mensagem ambiental, que é tão importante, aos governos para que se unam nesta situação. Não há só uma crise com a covid-19, também há uma crise pelo clima.

Não te agrada a comparação com a Greta Thunberg. É verdade?
Sim. Eu admiro muito a Greta, é uma ativista reconhecida, destaco o seu trabalho e faço parte do seu movimento ambiental “Sextas-feiras pelo futuro” na Colômbia. Mas digamos que Greta está numa outra realidade, num outro contexto. Ela está na Suécia e eu estou na Colômbia, um país pobre, desigual e muitos não valorizam o meu trabalho de ativismo ambiental. Porque temos várias zonas, como em Santander e Caquetá, onde muitas crianças não têm bens essenciais. Grande parte do território colombiano é rural. É muito mais difícil compreender este ativismo na Colômbia do que na Suécia.

Cada um pode fazer a diferença?
Sim. Cada um pode fazer a diferença com ações pequenas, grandes, com ações que influenciam de maneira positiva o Planeta.

Que gostas de fazer no teu tempo livre?
Gosto de fazer várias coisas, como fotografia. Também gosto de ler, jogar videojogos, neste momento, estou a jogar Free Fire e Fortnite. Adoro nadar e andar de bicicleta. E gosto muito de aprender sobre História e Geografia. Quero aprender todos os países porque o Mundo é enorme fonte de Cultura, de História com milhares e milhares de anos e as pessoas infelizmente não a conhecem. É muito importante conhecer a História para não repeti-la.

E no futuro? O que queres ser quando fores grande?
Sinceramente, quero ser cientista, historiador ou sociólogo. Tenho estas três profissões [na cabeça]. Gosto muito de História mas também de Ciência, tenho um microscópio [pega nele para o mostrar ] e tenho um telescópio [e vira a câmara para o aparelho].

E para as crianças e jovens de Portugal, o que gostavas de lhes dizer?
Que Portugal é um país muito lindo, que é interessante conhecer a sua riqueza natural e toda a sua riqueza em geral, pela História, Geografia, por tudo. Desafio a conhecerem. Tu amas o que conheces. E quando começas a conhecer o que te rodeia, quando começas a conhecer o teu país, a tua região, o que está à tua volta, apaixonas-te por isso. É preciso conhecer para defender. Espero conhecer Portugal em breve!

Texto: Sandra Alves