É Natal e é tempo de espetáculos com palhaços, malabaristas, acrobatas, ilusionistas. Sem animais selvagens, como manda a lei. De resto, toda a magia possível para sonhar de olhos abertos.
Circo no Natal é um clássico, tradição que não esmorece (apesar da pandemia que trocou as voltas e suspendeu os habituais espetáculos natalícios nos últimos dois anos). Seja como for, não há volta a dar: Natal tem circo. E contra factos, não há argumentos.
Miguel Chen, 82 anos de vida, sabe do que fala. É o mais velho diretor de circo do país, fundou o Circo Chen há 40 anos, feitos em março passado. Neste momento, o Circo Chen apresenta “O sonho do palhaço”, junto ao Parque da Bela Vista, em Lisboa, até 9 de janeiro. “É um espetáculo muito bonito para crianças e para adultos”, conta Miguel Chen.
Há um palhaço pequeno que sonha, um palhaço maior que entra em cena, e muita magia no palco durante duas horas, com intervalo pelo meio. É um regresso depois de 23 meses parados e sem um único subsídio. Não foi fácil, mas o regresso é em grande. “Energia temos nós”, garante. Afinal, é uma vida dedicada ao circo. “Não sei fazer outra coisa, tenho toda a família no circo.” Até um neto que já dá saltos em cima do arame.
A família Mariani está de volta também, após dois anos de paragem forçada pela pandemia, com tenda montada no antigo parque do Candal, em Vila Nova de Gaia, até 2 de janeiro, e no Cais 8 no Funchal, Madeira, até 9 de janeiro. O Circo Mundial tem palhaços, elfos e pernas longas, equilibristas e malabaristas, patinadores e um globo da morte. Artistas que fazem sonhar de olhos abertos. Há 27 anos que assim é. “Estamos de regresso com mais força, com mais vontade, é como renascer das cinzas”, confessa Rui Carvalho, antigo trapezista, agora representante do Circo Mundial. “Acreditamos que darão mais valor à arte que fazemos”, acrescenta.
Sem macacos, tigres e ursos
Circo é alegria e magia, com certeza, mas há regras. Há uma lei que reforça e protege os animais. É proibida a utilização de animais selvagens em circos. Assim, tal e qual. Macacos, elefantes, tigres, leões, ursos, focas, crocodilos, pinguins, hipopótamos, rinocerontes, serpentes e avestruzes não entram. É, como diz a lei, “proibida a captura e o treino de animais selvagens com vista à sua utilização em circos.” Sem tirar nem pôr.
Os animais que fazem parte dos números de circo, como os de companhia e de pecuária, têm de estar registados. A lei portuguesa criou o Cadastro Nacional de Animais Utilizados em Circos. Mais claro não pode ser. Os registos têm de ter a identificação do promotor do circo e do detentor do animal, nomes e moradas de quem manda. O nome, a espécie, a raça, a idade e sinais particulares, se os houver, têm de constar no registo de cada bicho.
Além disso, o movimento mensal tem de ser reportado com dados de nascimentos e mortes, da origem e das datas de entradas e saídas e destino dos animais. Tudo direitinho. A lei estabelece um período transitório de seis anos a contar de fevereiro de 2019. Depois desse tempo, as multas começam nos 250 euros.
Texto: Sara Dias Oliveira