A época balnear já não é o que era

A época balnear já não é o que era

O calor aperta cada vez mais cedo, as praias enchem-se muito antes do verão, há até quem se afoite no mar sem um nadador-salvador por perto. E as fatalidades vão-se acumulando. O enredo suscita questões relevantes.

Devia começar mais cedo?

A questão tem vindo a colocar-se mais e mais nos últimos anos. Se há muito o período clássico da época balnear (leia-se: a mais favorável para ir a banhos e aquela em que, à partida, as praias serão vigiadas por nadadores-salvadores) decorre entre 1 de junho e 30 de setembro, o tempo começa a parecer curto. Desde logo, por culpa das alterações climáticas, que muitas vezes se têm traduzido em temperaturas elevadas fora de época. Este ano é um bom exemplo disso. Logo no início de abril, as praias encheram-se de gente. E houve três mortes a registar. O que nos leva à discussão sobre a eventual necessidade de alargar a época balnear para garantir a segurança dos cidadãos. Há até quem defenda que deve durar o ano inteiro.

Faltam nadadores-salvadores

O problema é que, mesmo nos moldes atuais, já há uma preocupante falta de nadadores-salvadores disponíveis para vigiar as praias. Este ano, por exemplo, estão disponíveis 4331, quando seriam precisos entre 5200 e 5500. E porque é que não há mais interessados? Porque, como a época balnear só dura durante os meses de verão, mais coisa menos coisa, trata-se de um trabalho sazonal (só numa dada época), que quase só atrai estudantes universitários. Não se perspetiva, portanto, uma carreira. Nem sequer há uma tabela remuneratória, que defina o que cada nadador-salvador recebe. E isso não é um trabalho lá muito atrativo.

Nas mãos dos concessionários

Desde 2019 que a assistência a banhistas compete, em teoria, às câmaras municipais. Na prática, a responsabilidade continua, quase sempre, a recair sobre os concessionários – as pessoas que pagam para explorar equipamentos balneares e que, entre outras coisas, ficam então responsáveis por contratar os nadadores-salvadores. Nas praias não concessionadas, a vigilância está a cargo da Autoridade Marítima Nacional.

E quanto a datas? O que a lei diz é que estas são definidas caso a caso, em função de vários critérios, nomeadamente as condições climáticas e a frequência dos banhistas. E as câmaras podem apresentar propostas de datas. Em várias praias do distrito de Faro, por exemplo, a época balnear arrancou na última segunda-feira, dia 15. Mas, na maior parte dos casos, continua a cingir-se aos meses de junho, julho e agosto.

Riscos e conselhos

E sabes quais são os riscos de ir ao mar fora da época balnear? Além da questão crucial que é não haver nadador-salvador, há outro ponto importante: é que, com frequência, apesar de o tempo ser de verão, o mar ainda é “de inverno”. Ou seja, os fundos das praias ainda estão muito alterados devido às tempestades de inverno, formando-se fundões e agueiros. Fundões são, como o nome indica, locais mais fundos e agueiros são correntes que afastam do areal.

Um dos conselhos que a Autoridade Marítima Nacional deixa tem justamente a ver com eles. Se deres por ti num agueiro, não nades contra a corrente. Nada paralelamente à costa até saíres dessa zona e só depois nada em direção ao areal. Mas há outras dicas importantes: não deves entrar no mar, nem sequer aproximar-te da linha de água, e nunca lhe deves virar costas, para evitar surpresas. Além de que as crianças devem estar permanentemente vigiadas.

Texto: Ana Tulha
Foto: Rita Chantre / Global Imagens