A história por detrás do mural de Simone de Oliveira

A história por detrás do mural de Simone de Oliveira

André Mano é neto de Simone de Oliveira, uma grande senhora da canção portuguesa e também atriz. No dia 30 de março, Simone disse adeus aos palcos após 65 anos de carreira. Teve uma vida artística recheada de prémios, muitos hits das suas músicas e participações em festivais internacionais – como a “A Desfolhada” (1969).

Foto: Paulo Spranger/Arquivo Global Imagens

Pois bem, o André é um dos quatro netos de Simone e foi desafiado pelo projeto “Galeria dos Inesquecíveis”, da Junta de Freguesia de Alvalade, para homenagear e pintar a sua avó. Não podia ser melhor! André tem 32 anos e é um arquiteto e graffiter. O mural destaca-se na imponente na fachada do prédio n.º 1 da Rua António Patrício, em Alvalade, após a sua apresentação oficial – dia 9 de maio, no Teatro Maria Matos. E porquê Alvalade? Avó e neto viveram sempre lá, logo, tinha toda a razão de ser a escolha para o mural.

Apesar de esta nova pintura traduzir a relação entre a avó e o neto, o artista não esquece as influências de estilos e de outras referências do seu percurso de vida que se escondem por detrás da obra. Há lá traços e cores com cheirinho ao seu amado hip-hop, o gosto pelas paisagens de cidades, palavras que são mensagens simbólicas e que “falam por si”.

André tem uma relação especial com a sua avó e tentou plasmar na pintura as marcas digitais que caracterizam Simone de Oliveira. Transferiu tudo para lá, o seu acompanhamento da carreira da Simone-artista e as ligações afetivas com a Simone-avó, criadora dos melhores pastéis de bacalhau do mundo, segundo ele. Primeiro, houve um trabalho prévio, num estúdio para fotografar Simone. De seguida, fez um esboço/desenho combinando blocos de cidade com a fotografia. Só depois é que passou para a criação verdadeira na parede.

A pintura demorou cerca de duas semanas a erguer-se e é fruto de um “diálogo” entre neto e avó e mais 300 latas de tinta. Tudo fala naquela obra, cada linha, cor ou palavra significam “Simone, a avó” e é André quem vai desvendando: na coluna da esquerda, está escrito ‘Simone’, e à direita dela ‘Sim Sou Eu’, que é o nome do último espetáculo da sua carreira; os outdoors no topo dos telhados (canto inferior direito) têm os nomes dos amigos de André, Observ, Eko e Mulog, que o ajudaram nesta construção do graffiti; aparecem dois dos títulos mais famosos das canções da avó, ‘Desfolhada’ e ‘Sol de Inverno’ (o favorito de André), como um link especial aos laços que os unem; também estão lá frases como “Um cigarrinho?” ou “Com duas pedras de gelo”, típicas expressões de Simone, a avó que, de vez em quando, ainda gosta de beber um whiskyzinho “sempre com duas pedras de gelo”; o Varela Silva, o avô postiço de André e último marido de Simone tem o seu nome no mural, a fazer companhia à mulher…

Ou seja, um mural de afetos e de simbolismo, como um graffiti deve ser. “Eu estive presente na vida dela em alguns trabalhos que ela foi desenvolvendo, algumas coisas importantes, musicais que fez, espetáculos de carreira, todas essas coisas, mas sim, levei tudo isto para o mural”. Orgulhoso do seu trabalho e da sua avó, diz André que um dia gostaria de ter uma carreira que seja tão rica como a dela foi.

Texto: Maria José Pimentel