O Planeta está mais quente do que há 100 anos. E a velocidade com que o clima se altera tem sido cada vez maior. Com estas mudanças, cresce também a vontade (e necessidade) de conseguirmos prever o clima de forma mais eficaz. Mas quão precisos conseguimos ser?
Primeiro, a importância do longo prazo
Para quem vive conectado com um smartphone deverá ser prática comum abrir a aplicação da meteorologia todos os dias. Devo levar guarda-chuva? Que casaco visto? A meteorologia é cada vez mais precisa e ajuda-nos a tomar decisões no dia a dia. Mas, tal como fazemos com o guarda-chuva ou o casaco, saber o clima a longo prazo também ajuda a tomar decisões.
Por exemplo, a seca extrema que atingiu grande parte do território português no início deste ano afetou particularmente um negócio: a agricultura. Com a previsão mensal do clima, os agricultores puderam ter uma noção de quando seria o fim da situação extrema, tomando decisões sobre as suas plantações.
Mas e se, com precisão, pudéssemos prever o clima (e consequentemente antecipar fenómenos extremos) a acontecer no próximo ano ou nos próximos cinco? Na agricultura, seria possível antecipar o que plantar, quando plantar ou que infraestruturas construir para salvaguardar as plantações – poupando recursos e evitando perdas.
Uma preocupação das seguradoras e dos governantes
Também as seguradoras, por exemplo, poderiam calcular de forma mais eficaz o valor dos seguros com base na previsão precisa do risco atmosférico. E, claro, com dados precisos, os governantes de todo o Mundo poderiam tomar ações mais concretas para prevenir catástrofes, como saber quando e com que intensidade um furação vai atingir uma determinada área, por exemplo. Segundo um relatório de 2021 lançado pela Aliança para o Desenvolvimento Hidrometeorológico, implementar ações que melhorem a previsão do tempo e os sistemas de alerta precoce sobre eventos climáticos pode ajudar a salvar 23 mil vidas por ano.
Esperanças colocadas na EVE
A EVE – Earth Virtualization Engines (traduzido para português como “engenhos de visualização da Terra”) é um sistema computacional avançado que, em suma, terá a capacidade de criar uma espécie de “gémeo” do Planeta Terra que nos pode mostrar como esta será daqui a 50, 100 ou 200 anos. Para isso, além de ser utilizada Inteligência Artificial, são também analisados petabytes (equivalente a mil terabytes) de dados diariamente. O sistema, atualmente numa fase embrionária, é partilhado por diversas instituições em diversos países, de forma a distribuir para a necessidade de espaço computacional por vários super computadores.
O projeto ambicioso surgiu da necessidade de analisar, prever e gerir o nosso planeta de forma sustentável e equilibrada. Assim, em julho de 2023, diversos especialistas de todo o Mundo reuniram-se em Berlim para discutir e planear o avanço da EVE, tornando-se este um esforço global para explorar o potencial da tecnologia e da engenhosidade humana em prol da resolução de desafios que irão afetar todos.
O pior cenário que conhecemos
Ainda que o futuro do Planeta Terra seja, para já, um conjunto de diversos cenários diferentes, já que não se sabe dizer com precisão que alterações vão ocorrer, algumas das hipóteses traçadas preocupam os especialistas. No Fórum Económico Mundial de 2020, recorrendo à plataforma Earth Time da Universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, foram publicadas algumas previsões. Nos piores cenários calculados, se não se tomarem medidas de combate ao aumento da temperatura, em 2100, várias regiões deixarão de existir como as conhecemos – com consequências como o aquecimento de mais de 4°C acima dos níveis pré-industriais, aumento das emissões, centenas de milhões de pessoas forçadas a migrar e um grande aumento de incêndios florestais.
Texto: Sara Sofia Gonçalves