Energia nuclear? É complicado

Não, não é de bombas atómicas que vamos falar neste texto. É de uma forma alternativa de produzir energia. Que tem vantagens e desvantagens. E que continua a não ser consensual. Até porque os fantasmas do passado são demasiado assombrosos.

Quando ouves falar em energia nuclear, em que é que pensas? Bombas? Não estás de todo errado. Porque primeiro ela foi usada precisamente para produzir bombas e mísseis. O que talvez não saibas é que também é utilizada para produzir eletricidade. Nuclear vem de núcleo. Neste caso, estamos a falar da energia que se encontra contida no núcleo dos átomos (aquelas partículas microscópicas que são a base da formação de qualquer substância, sabes?). E como se gera essa energia? Através da divisão do núcleo do átomo de um metal pesado, de cariz radioativo, como o urânio ou o plutónio. Essa cisão (ou fissão) gera calor, que é aproveitado para produzir vapor de água e que por sua vez é usado na produção de eletricidade.

 

Recursos abundantes, riscos também

 

E até há vantagens. A primeira é que, ao contrário dos combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, que têm de ser queimados em grandes quantidades para produzir energia, no caso dos combustíveis nucleares só são necessárias pequenas quantidades. Além de que as reservas de urânio são imensas, pelo que não se coloca a questão da limitação de recursos. Depois, é o facto de não serem produzidos gases com efeito de estufa. E de dar aos países importadores de petróleo e gás maior autonomia energética.

O problema está nas desvantagens. A construção e a manutenção das centrais nucleares saem muito caras, porque têm de ser de locais altamente seguros – ou não estivéssemos a falar de resíduos radioativos que, quando em contacto com os humanos, podem provocar desde cancros a malformações fetais (basta lembrarmo-nos do que aconteceu em Chernobyl, na Ucrânia, onde um acidente numa central nuclear lançou uma onda radioativa que causou um número indeterminado de mortes e destruição a toda a volta). Há ainda a problemática do destino dado ao lixo atómico.

 

EUA lideram, Portugal diz nem pensar

 

O tema está na ordem do dia. Na quarta-feira, a Comissão Europeia anunciou a atribuição do rótulo sustentável a este tipo de energia – uma decisão nada consensual. Tanto que ainda recentemente o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, se tinha manifestado contra esta intenção de Bruxelas, com o argumento de que “não é seguro e custa muito dinheiro”. A tomada de posição do governante português não surpreende, tendo em conta o panorama do nosso país, onde não há centrais nucleares. Já os EUA, maiores produtores mundiais deste tipo de energia, têm perto de uma centena de centrais. E mesmo a França tem 80% da sua eletricidade produzida por esta via. E no futuro, como será?

 

Texto: Ana Tulha