Portugal a secar. E agora?

Há décadas que o país não enfrentava uma seca tão grave. E os próximos tempos não parecem nada animadores. Basta juntar dois ingredientes, pouca chuva e temperaturas muito altas, para começar a temer a redução drástica da água que temos armazenada em barragens e disponível no solo. O clima português está cada vez mais parecido com o do Norte de África.

 

Impacto no solo

A percentagem de água no solo diminuiu, este ano, em quase todo o território continental, com as regiões mais interiores a sofrerem mais. Olhemos para a agricultura: quando a reserva de água no solo é baixa (porque não chove) e as temperaturas são elevadas, isso compromete a sobrevivência das plantações e a qualidade da produção.

 

Vamos ficar parecidos com o Norte de África?

 

Há muito que ouvimos os especialistas avisarem para o risco de Portugal se tornar um prolongamento do Norte de África, no que toca ao clima e aridez do solo. E a tendência, com ondas de calor cada vez mais fortes e com menos chuva, está a confirmar-se: o tempo está mais seco e bastante mais quente.

 

Choveu metade do normal

 

Este é o segundo ano hidrológico (que se conta de outubro a maio) mais seco desde 1931. O que significa que choveu apenas metade do que é normal para a época. Só em maio, o mais quente desde que há registos, a precipitação ficou-se pelos 13%. Nessa altura, 97% do território do país estava em seca severa e 1,4% em seca extrema. Números que se vão, certamente, agravar agora no verão. Mas atenção que, em Portugal, a seca não é de agora. Nos últimos vinte anos, a precipitação baixou cerca de 15%. E até ao final do século prevê-se que vá haver ainda menos chuva.

 

O caso do Algarve

 

É o Algarve que enfrenta a situação mais complicada. Porque nos meses de verão é quando as principais atividades económicas do sul do país – a agricultura e o turismo – têm os maiores consumos, à conta da vaga de turistas. E o caso é preocupante para os agricultores que já têm pomares de laranjeira ou vinhas instaladas. A solução poderá ser não regar todos os dias, para garantir apenas que as árvores não morrem.

 

Haverá água suficiente?

 

O Governo garantiu que, apesar da seca, o país tem água suficiente para consumo humano nos próximos dois anos, graças às reservas portuguesas (nas barragens e aquíferos). Mesmo sem chuva. Mas uma coisa é certa, vamos ter de nos habituar a viver com menos água e a poupá-la em casa. Além disso, em certas zonas do país, vai ter que se reduzir o uso de água para regar as plantações. Mas não pode ser de forma dramática, porque sem agricultura não temos alimentação.

 

Texto: Catarina Silva