Será que a robotização da economia nos vai permitir viver num Mundo utópico onde não há crime, pobreza ou corrupção? A ideia de um rendimento básico universal tem cada vez mais adeptos e até já há países europeus a oferecer dinheiro aos cidadãos.
A ideia de uma sociedade onde não há pobreza, criminalidade ou corrupção e em que todos podemos escolher o que fazer na vida sem termos de nos preocupar com dinheiro não é de agora: foi descrita há quase 500 anos por Thomas More no livro “Utopia”. Agora, há quem acredite que podemos vir a viver numa sociedade idêntica, à medida que os robôs ocupam os empregos e o conceito de Rendimento Básico Incondicional ganha força. Se todos recebessem um cheque mensal com um valor suficiente para viver e trabalhar fosse opcional, seríamos mais felizes?
Já alguém experimentou?
A Finlândia fez um teste parcial, em 2017 e 2018, apenas com desempregados a quem deu um cheque mensal de 540 euros para saber se ficariam mais ou menos motivados para procurar trabalho. Poucos o fizeram. Há um mês, a Alemanha começou outra experiência, oferecendo 1 200 euros por mês, durante três anos, a 120 voluntários. No final do teste saberemos se o apoio vai reduzir desigualdades sociais e promover o bem-estar ou estimular a preguiça e desencorajar a procura por trabalho.
Temos algo parecido?
Em Portugal, este conceito não foi testado. Temos o Rendimento Social de Inserção, mas não é a mesma coisa. Destina-se apenas a dar o mínimo a quem não tem nenhum meio para sobreviver e é tão baixo (189,66 euros por mês) que mal dá para comer uma sopa por dia. Em Espanha, só em junho deste ano foi criado rendimento parecido, para 850 mil famílias sem rendimentos, que recebem entre 462 e 1 150 euros mensais.
Ainda temos o salário mínimo nacional (635 euros) português, que é para quem trabalha e é baixo, mas está à frente de outros países europeus. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou há dias que a crise da covid-19 torna urgente estabelecer um salário mínimo para todos na Europa.
Quem defende o Rendimento Básico Incondicional diz que, em Portugal, teria de ser de pelo menos 750 euros por pessoa. A discussão tem sido sobre onde iria o Estado buscar tanto dinheiro.
O dinheiro é tudo?
Supondo que a ideia avança e que todos podem receber um cheque todos os meses, quer trabalhem, quer não, resta saber qual será o resultado. Deixará de haver crime e desigualdade? Se ninguém tivesse de trabalhar será que quereria fazê-lo? Para ter mais do que outros ou para se sentir útil? Por gosto ou por obrigação?
Texto: Erika Nunes