A violência sexual tem muitas formas

A violência sexual tem muitas formas

Toques íntimos indesejados, envio de “nudes”, até conversas e perguntas desconfortáveis sobre o sexo e a intimidade. Percebe os sinais de alerta e o que podes fazer se um dia te deparares com uma situação destas.

 

O que está em causa

 

É possível que quando ouves falar de violência sexual contra crianças e jovens penses num adulto a obrigar um menor a ter sexo com ele (ou ela). E não estás errado. Mas é importante que saibas que a violência sexual não acontece apenas quando há penetração. Pelo contrário, tem muitas formas. Pode ser um toque íntimo indesejado (como um beijo na boca ou uma mão nos órgãos genitais). Ou um comentário de cariz sexual. Ou um envio de uma foto suspeita – as chamadas “nudes”. Os agressores podem ainda forçar as vítimas a tocar-lhes nos órgãos sexuais. Ou fazê-las assistir ou participar em filmes ou fotografias de caráter pornográfico. Ou até insistir em conversas ou questões intrusivas sobre o sexo e a intimidade. E estes são apenas alguns exemplos.

 

Violência vs exploração

 

Sabes qual é a diferença entre violência sexual e exploração sexual? A exploração é o tipo de abuso que acontece quando a criança ou adolescente sofre abuso sexual em troca de alguma coisa. Seja comida, roupa, um lugar para dormir (mais habitual em crianças muito pobres ou que procuram fugir da casa dos pais) ou dinheiro. Neste caso, falamos de prostituição infantil e implica que alguém lucre financeiramente com a exploração sexual do menor.

 

Perigo à solta na Internet

 

Possivelmente, és um fã assumido da Internet e de todas as ferramentas que ela te permite usar. Mas convém estares consciente de que, quando usada de forma errada, a web pode pôr-te em perigo. Na verdade, o mundo cibernético veio aumentar o leque de possibilidades de exercer violência sexual sobre os mais novos. Porquê? Porque há muitos pedófilos e violadores que tiram partido da ingenuidade das crianças e jovens que a usam e se aproveitam deles.

Refugiados atrás de um ecrã que lhes permite ocultar a verdadeira identidade, fazem-se passar por outras pessoas, quase sempre jovens (por vezes enviam até supostas fotos deles, que na verdade não são reais), com o intuito de convencer as vítimas a enviar “nudes” ou até a alinhar em encontros cara a cara. Quando finalmente se percebe com quem se esteve a falar, pode ser demasiado tarde.

 

O que se passa na Igreja?

 

Provavelmente, já te apercebeste de que nos últimos tempos a Igreja tem surgido associada a esta temática da violência sexual. Sabes porquê? Porque, depois de em vários países terem rebentado escândalos relacionados com o abuso sexual de menores por parte de membros da Igreja (em França, por exemplo, estima-se que, entre 1950 e 2020, tenha havido mais de 200 mil vítimas), decidiu-se também tentar perceber a extensão do problema em Portugal. Para isso, foi criada uma comissão independente que, há mais ou menos um ano, está a recolher denúncias e a procurar fazer um raio-X deste flagelo. O relatório final será apresentado esta segunda-feira, dia 13. No último balanço público, que foi feito em outubro, a comissão tinha já recebido mais de 400 denúncias.

 

Alertas e o que fazer

 

Há outros dados importantes que convém reteres. Um deles é que, muitas vezes, as pessoas que sofrem os abusos, sobretudo quando são menores, não percebem logo o que está a acontecer. Nem percebem que são vítimas.

Outro é que dificilmente será possível reconhecer um pedófilo ou agressor à primeira vista. Na maioria dos casos, trata-se até de alguém próximo da vítima. Seja na escola, no futebol, até dentro da própria família. Também é comum que os abusadores tentem convencer as vítimas a não falar sobre o assunto com terceiros (só o pedido de segredo é um claro indício de que algo está errado…).

Outro sinal de alarme é o facto de as atitudes e gestos da pessoa em causa te provocarem desconforto, nojo, vergonha, angústia, medo. Perante isto, o que podes fazer? Falar com um adulto da tua maior confiança e explicares exatamente o que aconteceu e como isso te fez sentir. Se, por acaso, isso for desvalorizado, insiste. Ou tenta um outro adulto de confiança (nunca o autor dos abusos, por muito próximo que ele seja de ti). E mais importante, nunca te esqueças disto: a culpa NÃO é tua. E o teu corpo tem de ser respeitado SEMPRE.

Texto: Ana Tulha
Ilustrações: Adobe Stock e Freepik