As armas existem, são terríveis, e há proibições (nem sempre respeitadas)

As armas existem, são terríveis, e há proibições (nem sempre respeitadas)

É um tema preocupante, extremamente sério, que mostra uma das piores facetas da Humanidade. Armamento para matar. A Rússia testa mísseis nunca antes utilizados. A Ucrânia tem luz verde para usar artilharia potente. E as restrições?

 

O que não pode ser usado

Na guerra e na primeira linha de combate, há regras a cumprir. As memórias são duras, as marcas ficam para sempre. A Convenção da ONU sobre Armas Convencionais, que entrou em vigor a 2 de dezembro de 1983, proíbe e restringe o uso de certas armas consideradas excessivamente prejudiciais. Os objetivos são óbvios. E que armas são essas? Minas terrestres, armadilhas explosivas, que mutilam e matam, dispositivos incendiários, armas laser que cegam, e restos de guerra que explodem. Armas terríveis, portanto. A convenção aplica-se a todos os tipos de conflito armado em qualquer parte do Mundo. Em nome da paz.

 

 

Tratado de Ottawa

A Convenção sobre a Proibição do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência de Minas Antipessoais e sobre a sua Destruição de 1997, também conhecido como Tratado de Ottawa, a Convenção de Proibição de Minas Antipessoal ou muitas vezes simplesmente como Tratado de Proibição de Minas, mira a eliminação do uso de minas antipessoais no Mundo. Até agosto de 2022, 164 estados ratificaram o tratado. As grandes potências globais, que também são fabricantes dessas minas terrestres, não fazem parte do tratado: EUA, China e Rússia.

 

Rússia e Ucrânia, armamento sofisticado e perigoso

A guerra na Ucrânia entrou numa nova fase, supostamente mais perigosa. Os Estados Unidos e os seus aliados enviaram mais material de combate, artilharia potente, para a Ucrânia e deram-lhe luz verde para usar, pela primeira vez, mísseis de longo alcance para atacar a Rússia, até há pouco proibidos. Há poucas semanas, o ainda presidente dos EUA, Joe Biden, também permitiu o envio de minas para a Ucrânia. O problema é que a Ucrânia assinou o Tratado de Ottawa. A Rússia já reagiu a essas indicações e testou um novo míssil hipersónico de médio alcance, batizado de “Oreshnik”, nunca usado, contra a Ucrânia, um aviso ao Ocidente. Putin falou ao Mundo e deixou no ar a possibilidade de atingir alvos militares de países que estão a fornecer armas à Ucrânia. A guerra não termina, pelo contrário, escala de uma forma muito preocupante.

 

Irão e as centrifugadoras avançadas

O Mundo está apreensivo com as movimentações do Irão, que estará a planear expandir o seu programa nuclear com novas centrifugadoras avançadas de vários tipos. As suas atividades nucleares preocupam e não são nada bem vistas pela comunidade mundial. A Agência Internacional de Energia Atómica veio a público relembrar o Irão das suas obrigações legais no Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares de 1970. O nome diz tudo. Apesar de o Irão garantir que cumprirá os compromissos, os Estados Unidos, a França, o Reino Unido e a Alemanha juntaram-se para manifestar a sua extrema preocupação se a expansão do programa nuclear avançar.

 

Nuclear não, obrigado

As armas nucleares são extremamente potentes e letais. O calor, a explosão e a radiação que provocam levam tudo à frente, matam pessoas, arrasam cidades inteiras, destroem todo o betão que existe no seu raio de alcance. Por tudo isso, o Mundo proibiu estas armas por razões humanitárias, morais e jurídicas, para que não sejam usadas como arremesso de guerra entre países, como vinganças ideológicas e políticas. São as armas mais destrutivas alguma vez criadas. A detonação seria uma catástrofe e está escrito que sejam eliminadas para que nunca sejam utilizadas. O seu uso é considerado contrário aos princípios e normas do Direito Internacional Humanitário.

 

A bomba atómica sobre Hiroxima e Nagasaki

Em agosto de 1945, no final da II Guerra Mundial, os Estados Unidos bombardearam as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki para forçar a rendição do Japão. A primeira bomba atómica foi lançada sobre Hiroxima, com 72 quilos de urânio, demorou 43 segundos até explodir, viu-se uma gigante nuvem de fumo em forma de cogumelo, matou 70 mil pessoas. Três dias depois, foi Nagasaki, segunda bomba atómica de plutónio, mais potente do que a primeira, cinco quilómetros de área destruídos, 35 mil pessoas mortas num segundo. Nos meses e anos seguintes, devido à radiação, morreram mais 165 mil pessoas. Este foi o primeiro e único momento da História em que armas nucleares foram usadas numa guerra contra alvos civis.

 

Químicas e biológicas

As armas químicas têm produtos com propriedades tóxicas, amplamente dispersos em gás, líquidos e formas sólidas – o gás lacrimogéneo é um exemplo. As armas biológicas são organismos que causam doenças ou libertam toxinas capazes de afetar e matar plantas, animais e seres humanos. Após a I Guerra Mundial, a comunidade internacional proibiu o seu uso e reforçou essa indicação em 1972 e 1993, ao banir o seu desenvolvimento e armazenamento.

Mesmo assim, com os avanços científicos e tecnológicos, teme-se que essas indicações e restrições estejam a ser ignoradas. As armas existem, sim, mas são horríveis e jamais deviam ser utilizadas pelo Homem. Nestes casos, não há fins que justifiquem estes meios que ferem e matam.

Texto: Sara Dias Oliveira
Foto: Haitham Imad/EPA