É um desperdício malcheiroso, é certo, mas é também um fertilizante natural e uma fonte de energia. Esta matéria orgânica tem muito que se lhe diga.
Quanto maior o animal, maior o seu cocó. A textura e o formato dão pistas sobre o tamanho dos bichos e o que andam a comer. O escritor britânico Andy Seed fala do assunto no livro “A verdade sobre o cocó e outras pistas do mundo animal”. “O cocó é composto por comida que o animal não consegue digerir, tal como osso, pelo, penas e cascas duras de sementes. Também contém água, muco, células e bactérias”, explica. E desvenda algumas curiosidades sobre o assunto.
Indispensável à vida
O cocó tem rótulo de porcaria, mas não é bem assim. O excremento de galinha, por exemplo, é considerado um dos melhores adubos naturais para a terra. E o biogás, combustível renovável e ecológico, também é feito a partir de fezes de bichos. Nuno Sequeira, professor e vice-presidente da associação ambientalista Quercus, diz que é preciso falar do assunto de forma natural. “Se isso não acontecer, não sabemos que os cocós dos animais são resíduos de alimentos que não foram digeridos e que fazem parte dos processos naturais para a nossa sobrevivência.” Não é, portanto, uma substância qualquer. “Faz parte do nosso ritmo e ciclo metabólico”, sublinha o ambientalista.
O poder do estrume
O estrume dos animais enriquece a terra e é usado para produzir energia. No Paraná, por exemplo, dejetos de porcos e bois são usados por agricultores na produção de energia. A decomposição é feita num reator químico, as bactérias entram em ação, controla-se a temperatura e a matéria orgânica é transformada em gás que gera energia elétrica e térmica. Em Inglaterra, numa pacata localidade, os cocós dos cães são colocados num reservatório junto ao poste de eletricidade que alimenta a iluminação pública. Como se não bastasse, o estrume dos animais, rico em celulose, poderá ser utilizado para fazer papel.
Solos, rios e lagoas
“O estrume, em si, não é problemático em termos de emissão de gases de efeito de estufa”, diz Francisco Ferreira, professor e presidente da associação ambientalista Zero. Ter poucos animais numa grande área ao ar livre não é um problema. “Os excrementos vão-se degradando de forma a que se incorporem no solo”, especifica Nuno Sequeira. O problema está em grandes concentrações de animais que podem causar danos ambientais e sanitários. Muita quantidade de excrementos numa área contamina os solos. “Não há capacidade do meio ambiente para conseguir, de repente, aguentar com uma carga orgânica tão grande”, lembra o vice-presidente da Quercus. Outro problema é se o cocó é arrastado para rios, ribeiras, lagoas. A água fica contaminada, as algas explodem em termos de crescimento e ocupação. Seja como for, os excrementos existem, não há volta a dar, e podem e devem ser bem aproveitados. A bem do ambiente.
CURIOSIDADES
Texto: Sara Dias Oliveira