Este movimento libanês tem dado muito que falar desde há um ano, quando o conflito entre Israel e a Palestina escalou de forma sangrenta. O grupo apoia os palestinianos e nas últimas semanas entrou em guerra aberta com os israelitas. Mas é preciso recuar a 1982 para entendermos como é que tudo começou.
A origem
O Hezbollah, de que certamente tens ouvido falar nos noticiários, é um movimento armado libanês e um dos principais inimigos de Israel. Nasceu em 1982, já lá vão mais de 40 anos, depois de Israel invadir o sul do Líbano durante a Guerra Civil Libanesa. Simplificando, surgiu como uma milícia para lutar contra a invasão israelita. E desde então o Hezbollah tem combatido Israel, que se foi retirando progressivamente do Líbano.
Em 2000, Israel deixou o sul do Líbano após 22 anos de ocupação, mas os conflitos entre o Hezbollah e Israel foram-se mantendo. Em 2006 entraram em guerra, depois de um ataque mortal do Hezbollah na fronteira entre Israel e o Líbano. Israel ripostou, invadiu o sul do Líbano, deu-se a guerra dos 33 dias, onde morreram mais de mil libaneses, a maioria civis, e 160 israelitas, a maioria militares. Um trauma marcante na sociedade libanesa.
A ONU e a tentativa de paz/highlight]
O Conselho de Segurança das Nações Unidas estipulou nessa altura que só o exército libanês e as forças de paz da ONU devem atuar no sul do Líbano. Mas o Hezbollah manteve a sua presença na região, diz-se até que cavou aí uma rede de túneis. A par disso, reforçou o arsenal de armas e angariou combatentes.
Em nome da resistência contra Israel, o grupo estabeleceu-se como força política dentro do Líbano (é conhecido por Partido de Deus) e há quem o acuse de constituir um Estado dentro de outro Estado. O movimento integra até o Governo e o Parlamento do país, onde nem Hezbollah nem os seus oponentes têm maioria absoluta. É preciso notar que entre a comunidade xiita, que é o segundo maior ramo de crentes do Islão e que constitui 16% do total dos muçulmanos, o Hezbollah é popular. Sobretudo porque gere uma rede de escolas, hospitais e associações de caridade que atendem os seus simpatizantes.
São terroristas?
Em 1997, os Estados Unidos incluíram o Hezbollah na lista de organizações terroristas e submeteram o grupo a sanções económicas, devido a vários ataques mortais contra forças israelitas e norte-americanas no Líbano. E a União Europeia também considera, desde 2013, que o braço armado deste movimento é uma organização terrorista.
Qual é o papel do Irão nisto?
O Hezbollah é armado e financiado pelo Irão. É, aliás, o mais influente dos grupos que integram o “eixo de resistência”, promovido pelo Irão contra Israel, que reúne o Hamas da Palestina, os rebeldes Huthis do Iémen e grupos iraquianos. Outro dado importante: é considerado uma das forças militares não estatais mais fortemente armadas do Mundo.
A escalada da guerra
É sabido que o ataque do Hamas no sul de Israel a 7 de outubro do ano passado desencadeou o brutal massacre israelita na Faixa de Gaza. Desde aí que o Hezbollah tem apoiado a Palestina, lançando foguetes e mísseis contra Israel. Agora, os confrontos na fronteira entre Líbano e Israel têm vindo a ganhar proporção e, nas últimas semanas, Israel levou a cabo uma série de bombardeamentos em larga escala no Líbano. Com isso, tem vindo a eliminar os principais comandantes do Hezbollah.
O chefe militar do grupo, Fuad Shukr, morreu em julho num bombardeamento. Depois foi Hassan Nasrallah, líder do movimento, que foi morto no final de setembro. Nesta semana também Suhail Hussein Husseini, comandante do quartel-general do Hezbollah, foi dizimado. Mas o movimento libanês já veio garantir que as suas capacidades militares continuam intactas e que vai aumentar os ataques contra Israel. Estamos perante uma guerra aberta.
Texto: Catarina Silva
Foto: Ahmad al-Rubaye/ AFP