Populismo e extremismo são a mesma coisa?

Populismo e extremismo são a mesma coisa?

Estamos fartos de ouvir as duas expressões e a resposta é não, não é tudo o mesmo. E é bom saber as diferenças. Mas, atenção, os dois fenómenos andam atualmente de mãos dadas.

 

 

O extremismo

Nas democracias há pluralismo e portanto há vários partidos políticos, de esquerda, de centro, de direita. E quando se fala em extremismo político, fala-se dos extremos, ou seja, da extrema-esquerda e da extrema-direita.

Tipicamente, no lado da extrema-esquerda estão partidos revolucionários, comunistas, que defendem ideias de igualdade social de forma radical, o fim da economia de mercado, das liberdades económicas e da desigualdade entre ricos e pobres. Já do lado da extrema-direita estão partidos que defendem políticas mais autoritárias, mais limitações às liberdades dos cidadãos, uma justiça mais dura.

Resumindo, seja à esquerda ou à direita, os extremistas defendem soluções extremas para os problemas sociais, são muito apegados às suas convicções e geralmente intolerantes a opiniões diferentes.

Ao longo dos séculos houve variações entre os partidos que estão nos extremos. E nos últimos anos, é certo, a extrema-direita cresceu muito na Europa, por isso é esse o lado mais visível agora, com partidos como o Chega de André Ventura em Portugal, que defende a castração química de pedófilos ou a introdução da prisão perpétua no nosso Código Penal. Mas há muitos outros: o Vox de Santiago Abascal em Espanha, o Fratelli d’Italia de Georgia Meloni em Itália, a União Nacional de Marine Le Pen em França, o Fidesz de Viktor Orbán na Hungria.

O populismo

Estamos constantemente a ouvir acusações de populismo entre políticos. E há que esclarecer o que é, afinal, isto do populismo. É uma prática política que apela a ideias enraizadas para ganhar votos.

A principal característica do populismo é dividir a sociedade em dois campos opostos, entre o “nós” e o “eles”. Em que o “nós” é a maioria, o povo que é bom e que há que defender, e o “eles” é a minoria, normalmente as elites políticas, económicas e intelectuais que são más, viciosas, corruptas (como o governo ou a banca), que conspiram contra os interesses do povo e que importa combater. É o chamado “antissistema”. E sim, o populismo é um discurso típico dos partidos extremistas atuais, daí confundir-se hoje extremismo com populismo. Aliás, o populismo no século XX era muito associado à esquerda, a movimentos nascidos na América Latina, mas agora, em pleno século XXI, é um fenómeno muito mais presente na direita.

Os dois fenómenos unidos

Sabias que, nos últimos 20 anos, a média de votos em partidos populistas de extrema-direita triplicou na Europa? O que acontece é que os populistas tendem a aproveitar fases de descontentamento para crescer. Quando as pessoas estão fartas e desacreditadas dos governos, quando a confiança dos eleitores nos políticos está em baixo, os discursos que dividem a sociedade entre o “nós” e o “eles” costumam proliferar e conquistar adeptos. Há uma certeza hoje: o populismo e o extremismo andam de mãos dadas.

Então e a demagogia, o que é?

Curiosamente, muito daquilo a que chamamos de populismo pode bem ser demagogia. Há milhares de anos, o demagogo era o líder político que apelava às emoções mais básicas das pessoas e não à razão para as manipular e chegar facilmente ao poder.

Basicamente, a demagogia aproveita os preconceitos da população e num discurso apaixonado aponta pequenos grupos ou minorias como os culpados de tudo, sem pruridos éticos ou morais. Tudo para agradar às massas populares e com promessas muito difíceis de concretizar.

A demagogia está presente ao longo de toda a história na política democrática, não é uma característica específica do populismo, só que a retórica populista atual usa muito esta estratégia. Simplificando, é comum vermos hoje um líder de um partido populista apontar o dedo a uma minoria que não é consensual na sociedade e usá-la como fonte de todos os problemas. Sejam ciganos, negros, imigrantes, pobres que dependem de subsídios do Estado para sobreviver. Isso é demagogia.

A Esquerda e a Direita

O nosso cenário político divide-se entre partidos de direita, de esquerda e de centro, que defendem ideias diferentes. Podes descobrir no site do TAG todas as diferenças ao pormenor, mas aqui vai um resumo.

A Esquerda acredita que a sociedade fica melhor quando o governo tem um papel maior para garantir direitos aos cidadãos, regular as empresas e cobrar impostos. Já a Direita defende uma menor participação do governo na sociedade, mais liberdade individual e autonomia das empresas.

Atualmente, no Parlamento português, temos partidos como o BE, o PCP, o PAN e o Livre à esquerda. O PS no centro-esquerda, o PSD no centro-direita. E à direita estão a IL e o Chega.

Texto: Catarina Silva
Ilustração: VectorMine/Adobe Stock