Zoológicos: Os animais estão felizes?

Zoológicos: Os animais estão felizes?

O papel de proteção de espécies e educação da população dos jardins zoológicos está cada vez mais em questão. A maior incerteza é se o bem-estar dos animais está assegurado. As opiniões dividem-se, sem consenso à vista.

Um jardim zoológico define-se por ser um espaço de exibição pública de animais, a maioria selvagens. Há quem defenda a existência destes espaços, argumentando com o caráter de conservação de espécies ameaçadas e a educação da população. Outros acreditam que são estruturas que procuram o lucro, causando sofrimento aos animais. A discussão é acesa. Afinal, que argumentos existem na balança do bem-estar animal em zoológicos?

A primeira questão prende-se com a saúde e a segurança dos habitantes dos zoos. Paulo Santos, professor da Universidade do Porto na área da Biologia, enumera a limitação de movimentos e a redução de estímulos como as principais causas de perturbações, quer no comportamento, quer no bem-estar de animais “enclausurados”. Estes fatores, garante, contribuem para o animal se sentir bem ou não. “Quanto mais senciente [ou seja, capaz de ter sensações, como dor, por exemplo] for a espécie, mais negativos são os efeitos.”

 

Reserva genética ou captura desenfreada

 

Já a Associação Portuguesa de Zoos e Aquários (APZA) defende que estes espaços “procuram recriar o habitat”, promovendo “os comportamentos naturais” dos animais e mantendo-os de plena saúde. Carlos Pinheiro, presidente da associação, assegura que as espécies nos zoos estão maioritariamente sob ameaça, constituindo “uma reserva genética para a sua reintrodução no habitat natural, através da descendência”.

Apesar de admitir que alguns zoos, “quando ligados a instituições de investigação credenciadas, podem ser úteis às espécies em perigo”, Paulo Santos salienta que essa não é a regra e destaca os vários estudos que “apontam o forte impacto da captura de animais para abastecer zoos, a nível mundial”.

O presidente da APZA sublinha o papel de conservação, educação e investigação, acreditando no objetivo principal de “sensibilizar para a conservação da Natureza”. O biólogo contraria o argumento da educação, afirmando que, na era tecnológica, “os milhões de vídeos hoje disponíveis em várias plataformas são muito mais educativos do que aquilo que poderá ser, eventualmente, aprendido no zoo”.

 

A regulação e a ética

 

Desde 2003 que, em Portugal, existe regulamentação para os zoológicos, sob responsabilidade da Direção-Geral de Veterinária e do Instituto de Conservação da Natureza, entre outras entidades. Há ainda uma diretiva europeia que estipula as condições e os cuidados a cumprir com os animais.

Há 25 parques zoológicos e aquários em Portugal, sete dos quais associados da APZA. Segundo Carlos Pinheiro, as associações nacionais e internacionais “fazem avaliações para aferir o cumprimentos das normativas obrigatórias” e o bem-estar dos animais é sempre assegurado.
O docente da Universidade do Porto duvida da eficácia de algumas fiscalizações e argumenta que a discussão não deve se centrar na existência ou no cumprimento de regulamentação, mas antes na própria essência do que é um zoológico. “A grande maioria é apenas um espaço de diversão e um negócio ultrapassado” e, em sua opinião, já não há justificação para existirem.

 

Texto: Sara Sofia Gonçalves
Foto: Ana Fonseca / Arquivo Global Imagens