A desflorestação, a aposta na agricultura intensiva, os consumos excessivos e o desperdício ajudam a explicar boa parte de um problema que se tem tornado cada vez mais relevante. E não, Portugal não escapa ao fenómeno.
Um país desigual
Se andas atento às notícias, é possível que já te tenhas apercebido que falamos cada vez mais de seca. Ainda há dois meses, em fevereiro, o Governo teve de reforçar as medidas para conter os efeitos dela no Algarve. Entre outras coisas, foi reduzida a pressão da água na rede de abastecimento público, foi suspensa a utilização da água pública ou potável na rega de jardins e viaturas, foi restringido o uso da água na agricultura e no turismo. Em março, o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, José Pimenta Machado, disse mesmo que o Algarve estava na “pior situação de sempre”. O problema não afeta todo o país de igual forma. A região Sul (Algarve e Alentejo) é particularmente penalizada, o Interior também.
A desflorestação
Mas, afinal, a que se deve a falta de água? A explicação mais óbvia é das alterações climáticas. Dados da Pordata, uma base de dados sobre Portugal que agrega milhares de estatísticas oficiais, mostram, por exemplo, que entre a década de 1970 e de 2010 o Algarve registou uma queda de precipitação na ordem dos 43%. E esta tendência vai com toda a certeza agravar-se. Mas a culpa não é só do clima. Há uma grande parte do problema que é da nossa responsabilidade.
Por exemplo, sabes que de cada vez que acabamos com áreas repletas de árvores e vegetação estamos a contribuir para a seca? Por um lado, porque quanto menos árvores houver, menor será a absorção do dióxido de carbono, o que por sua vez aumenta o aquecimento global. Por outro lado, a desflorestação (que é o processo de destruição de árvores florestais) tem um impacto direto nos solos, que perdem nutrientes e se tornam cada vez mais impermeáveis. Ou seja, mesmo quando chove, a água tem mais dificuldade em infiltrar-se nos solos. E assim os aquíferos – espécie de reservatórios naturais que armazenam a água subterrânea e abastecem os rios e poços – não são recarregados.
A agricultura intensiva
Para este problema, contribui também a chamada agricultura intensiva, que tão polémica tem sido (muito por causa disso). Como o próprio nome indica, é um tipo de agricultura que visa o aumento da produtividade e a redução do tempo de produção. O problema é que, para garantir os tais níveis elevados de produtividade, a agricultura intensiva exige grandes quantidades de água. Sabias, por exemplo, que para produzir um único abacate se gasta, em média, o equivalente à água usada para tomar quatro banhos? Ainda por cima, a agricultura intensiva também contribui para o empobrecimento dos solos, de que já te falámos.
O desperdício
Há uma outra nuance que pesa no agravamento da seca, que é o desperdício de água, recorrente em todo o Mundo. E que ocorre tanto ao nível das redes de abastecimento como no consumo doméstico. Um relatório da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), divulgado em 2020, mostrava que Portugal desperdiçava, nas redes de distribuição, o equivalente a nove piscinas olímpicas. Por hora! Quanto ao consumo doméstico, são pequenos hábitos que individualmente têm um impacto reduzido, mas que, se todos tivermos o cuidado de mudar, podem ser uma ajuda.
A propósito, recordamos-te algumas dicas de poupança caseiras: manter a torneira fechada enquanto te ensaboas, guardar a água fria do banho (enquanto não aquece) para regar as plantas, pôr as máquinas da roupa ou da louça a lavar sempre com a carga máxima, evitar lavar o carro ou o quintal de mangueira.
Texto: Ana Tulha
Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens