Temos tido dias de calor abrasador quando era suposto estar frio, e dias bastante frescos e de chuva nas épocas em que deveriam estar temperaturas mais amenas. O tempo parece estar todo trocado.
Em agosto, choveu e trovejou como se estivéssemos em dezembro. Em outubro do ano passado, muita gente aproveitou o calor para ir à praia. As alterações estão a baralhar as pessoas, que questionam se as estações do ano estão a mudar. Para nos ajudar a perceber o que se está a passar, o TAG falou com Ana Monteiro, professora Catedrática do Departamento de Geografia da Universidade do Porto.
Porque é que temos estações do ano?
As estações são subdivisões climáticas de períodos ao longo do ano, que conhecemos como primavera, verão, outono e inverno. A diferença entre elas deve-se aos dois movimentos distintos que o planeta Terra realiza: a rotação, em torno do seu próprio eixo (que dura 24 horas e que possibilita a ocorrência do dia e da noite), e a translação, em torno do Sol (que dura um ano e é responsável pela existência das estações do ano).
É também a translação que faz com que a incidência dos raios solares seja desigual. Por isso, as estações do ano são diferentes no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul.
O que define as estações em Portugal?
De três em três meses começa uma nova estação do ano. Em Portugal, que fica no Hemisfério Norte, definem-se assim: de 21 de março a 20 de junho temos a primavera, com temperaturas amenas e agradáveis. Uma época em que chove menos e as flores começam a florescer. De 21 de junho a de 20 setembro temos o verão, com temperaturas elevadas, quase não chove e os dias são mais longos do que as noites. De 21 de setembro a 20 de dezembro temos o outono, considerado um período de transição, com descida das temperaturas e queda das folhas das árvores. E, por fim, de 21 de dezembro a 20 de março, o inverno, conhecido pelo frio e pela chuva e pelos dias mais curtos e as noites mais longas.
As estações são iguais em todo o Mundo?
Não. Foi uma decisão do Ocidente dividir o ano em quatro estações.
Mas certas culturas fazem-no de outra maneira. Na China, acrescentaram uma quinta, a Canícula (que corresponde aos 18 últimos dias de cada estação). Na Índia, há três estações: quente, fria e chuvosa. Em África, países como Angola e Moçambique têm duas estações: a das chuvas (quente e húmida) e o cacimbo (seco e mais fresco).
E se não tivéssemos estações?
Se a Terra estivesse sempre na mesma posição, não haveria necessidade de dividir o ano em períodos porque o clima seria sempre igual em cada região do planeta. Isso ia significar estar mais frio à medida que nos afastássemos da zona do Equador, a região que recebe mais calor direto.
Assim, os seres humanos não conseguiriam sobreviver ao inverno contínuo das altas latitudes e provavelmente iam amontoar-se nas zonas tropicais. Sem variação de luz, o clima nos polos ia ser tão frio que nem os pinguins ou os ursos lá viveriam. E nos lugares quentes, como o deserto do Saara, seria extremamente quente e seco.
As estações estão a mudar?
Segundo a professora Ana Monteiro, sim. “As estações do ano, conforme as conhecíamos, deixaram de fazer sentido, principalmente a primavera e o outono.”Algo que mudou a partir dos “finais dos anos 1990”, quando as estações secas passaram a ocorrer em épocas que se achavam húmidas e vice-versa.
Além do mais, explica a professora, “tendemos a memorizar as condições de tempo que nos são desfavoráveis”. Como somos cada vez mais urbanos, “apenas esperamos que haja tempo seco e quente”. Quando os dias fogem ao esperado, “sublinhamos a ideia de que as estações do ano estão a desaparecer”. Mesmo que essas variações sejam normais, porque não é incomum chover no verão.
A culpa é do aquecimento global?
Sim, é essa a causa. “As associações que as pessoas fazem quando pensam em aquecimento global é que as temperaturas só vão subir”, lembra a especialista. Porém, o que acontece é que o planeta tenta equilibrar-se, traduzindo-se em picos de frio, vento, seca, chuva e calor mais frequentes, enquanto o sistema climático se tenta estabilizar.