A pandemia domina a atualidade e ouvimos cada vez mais falar de variantes e da preocupação que elas suscitam. Afinal, que alterações são essas nos vírus e como aparecem?
Os vírus conseguem adaptar-se às condições que os rodeiam. Sempre que são detetadas “alterações ao padrão identificado pela primeira vez”, temos uma variante, explica o epidemiologista Mário Jorge Santos. Deste coronavírus (assim chamado porque apresenta na sua superfície extremos em forma de coroas), existem “centenas de variantes já identificadas, apesar de só uma dúzia nos preocuparem”. Mas esta situação não é exclusiva da atual pandemia, já que todos os vírus apresentam mutações ao longo do tempo, apesar de algumas nem sequer afetarem o ser humano.
Estas alterações ao vírus original ocorrem dentro das células do hospedeiro, ou seja, da pessoa ou animal que tem o vírus dentro do organismo. Os vírus, nota o médico de saúde pública, “são especiais”, pois não se conseguem reproduzir sozinhos. Precisam de aderir a uma célula e utilizar o ADN dela para se reproduzir.
Porquê tantas mutações?
As alterações do vírus acontecem dentro do corpo do hospedeiro e, por isso, quanto mais pessoas estiverem infetadas, maior é a probabilidade de ocorrerem estas alterações. Por essa razão, “algumas das variantes que mais nos preocupam são em países com milhões de habitantes”, onde pela quantidade de infetados e pelo número de vezes que o vírus se reproduz, aparecem mais mutações. É por esta razão que a pandemia não se resolve num só país, mas com cooperação internacional, pois “se deixarmos países muito populosos sem apoio, pode aparecer uma variante que resiste às vacinas que conhecemos até agora”.
Como se define o perigo?
É nos locais mais ou menos populosos que há mais probabilidade de surgir uma variante. Mas o que caracteriza a perigosidade das variantes é a velocidade de propagação. Uma variante torna-se mais contagiosa por ter maior capacidade de aderência às células e maior resistência ao sistema imunitário, enumera Mário Jorge Santos. O epidemiologista lembra que a perigosidade das variantes é referente ao seu risco epidemiológico, por se propagarem mais pela população, pois, do ponto de vista clínico, no caso do SARS-CoV-2 (o vírus responsável pela doença covid-19), não parece haver diferença entre variantes, ou seja, diferentes mutações não têm causado problemas significativamente mais graves nos pacientes.
Vamos precisar de novas vacinas?
Na atual crise pandémica, em Portugal, estão identificadas as variantes alfa, beta, gama e delta. Mário Jorge Santos evidencia que as chamadas “vagas” ou “ondas” – pontos temporais com maior número de casos – estão, por norma, associados ao aparecimento de novas variantes, que se tornam mais contagiosas e dominam as anteriores. Mas, à medida que a vacinação vai avançando, a probabilidade de aparecer uma nova variante dominante vai diminuindo. Apesar de ainda não haver certezas de como serão as futuras variantes, nem todas obrigam à criação novas vacinas, já que “há vírus, como o da febre amarela, em que a vacinação dura toda a vida”, enquanto outros, como o da gripe, em que “é necessária vacinação anual, devido às várias mutações que se dão”.
Texto: Sara Sofia Gonçalves